Pensando na palavra digestão,
imediatamente nos vem à cabeça o funcionamento complexo e perfeito de nosso
aparelho digestivo, as liberações de enzimas, as quebras das moléculas dos
alimentos físicos que ingerimos, a absorção feita por etapas através dos nossos
órgãos de forma tão integrada e sincronizada. Um milagre! É fácil termos acesso
a esse aprendizado em qualquer instituição de ensino uma vez que esta
informação é disponibilizada nos diversos curriculums escolares. E, quando
tomamos consciência do processamento de alimentos sólidos e líquidos em nossos
organismos, muitas vezes, nos interessamos mais sobre o tipo e a qualidade dos
alimentos que vamos ingerir. Mas, isso basta para sermos saudáveis? Basta-nos
aprender tão somente sobre a digestão física? Como funciona a digestão das
nossas emoções e sentimentos? Ou, não os digerimos?!

Falta-nos estudar sobre o processamento dos alimentos sutis. Os pensamentos, as
emoções, as memórias, as experiências vivenciais do dia-a-dia; toda sorte de
alimentos sutis que ingerimos, querendo ou não, mas que também precisam ser
digeridos em nosso Ser. Talvez, falando de forma generalizada, este aspecto
seja o que mais diferencie os povos do ocidente da maior parte dos povos do
oriente. Quando a espiritualidade, não necessariamente a religião, caminha
junto com a vida de um povo, o ser humano aprende desde muito pequeno a
conhecer-se como um todo, o que é visível e palpável em si e o que é invisível
e oculto também. Não é porque não visualizamos o processamento de toda a
complexidade de pensamentos que brotam em nossas mentes que seus efeitos sob
nossas células e órgãos deixam de existir. E quão valioso seria se pudéssemos
ver uma nação inteira se conhecendo por dentro, por fora, em volta e além!
De que maneira podemos cuidar da nossa digestão sutil? Certamente, existem
várias formas e práticas espirituais à nossa disposição com o objetivo de nos
fornecer ferramentas para promover nosso equilíbrio mental e melhorar nossa
qualidade de vida, mas para cuidar da digestão sutil, todas devem passar pelo
conhecimento da mente e pelo real conhecimento de Quem Eu Sou. Não podemos
escolher todos os alimentos sutis, nem modificar a natureza dual da mente
humana, mas podemos conhecer este corpo mental tão bem quanto o corpo físico
para que possamos escolher os alimentos que iremos ingerir, saber como
processar os de
difícil digestão que não podemos escolher para, assim, termos algum
gerenciamento sobre as situações que vivenciamos e recebemos da vida.

Falta-nos aprender corretamente
como funciona o lugar do nosso pensar, a nossa mente, que no Yoga encontra-se
associado ao corpo sutil, ou sῡkṣma śarīra.
Segundo a ciência do Yoga, esse corpo sutil é constituído pela mente, o
intelecto e o prāṇa,
e possui três invólucros que chamam-se vijñanamaya
kośa (que nos dá a noção de
individualidade e julgamento), manomaya
kośa (que nos dá a percepção
do mundo exterior como instrumento psíquico da mente) e prāṇamaya kośa (onde se desenvolve a maior parte
da atividade psíquica pela atividade dos chakras). Trata-se de um corpo
complexo e sofisticado que nos fornece, portanto, recursos diferenciados para
lidarmos com a vida. Através do estudo e autoconhecimento, é possível aprender
a utilizá-los a nosso favor para nos alimentarmos melhor e vivermos a vida com
sabedoria. Para isso, é preciso haver uma decisão interna firme, um pouco de
dedicação e um tanto de abertura espiritual.

O homem intelectual, provido de uma
mente capaz de investigar e desenvolver tantos conhecimentos, estabeleceu sua
visão científica do corpo e da mente na vida humana. O projeto do corpo humano
pela visão científica consiste de espaços e estruturas cuja finalidade é manter
a pulsação originária da vida humana para que seja possível a realização de
atividades especializadas. Sendo assim, no processo inicial de surgimento do
corpo físico formam-se as camadas teciduais visíveis (neural, muscular e
orgânica) e uma camada hormonal invisível, que são os líquidos que geram e
regulam o crescimento, a reprodução, a transmissão de informações, os
sentimentos, etc. Através da relação entre essas camadas surgem as experiências
diversas como toque, sons, sentidos externos, temperatura, pressão,
elasticidade, ritmo, motilidade, etc.. Nossa história pessoal e emocional
influencia o desenvolvimento e a expressão da forma humana. O cuidado, suporte
e transmissão de experiências (informação sutil) que a família fornece à
criança que está se transformando em adulto afetam o desenvolvimento do corpo
humano. Se essas informações forem conduzidas na forma de agressões (o que
despertará nossos reflexos de defesa), gerarão reações físicas de contração de
músculos, suspensão da respiração, entre outras, em nossos corpos; certamente,
o processo digestivo sutil estará também automaticamente afetado. Se a agressão
for grave e se sustentar por um bom tempo, o padrão de defesa se aprofundará.
Sendo assim, os “perigos” internos e externos que vivemos criam reações que
mudam nossa forma e nosso funcionamento orgânico geral. E quanto mais
persistente for a situação, mais estrutural será esta mudança, atingindo
órgãos, músculos, ossos, etc. Isso é o estresse!
Como se não bastasse, temos
atualmente inúmeras fontes de informações desqualificadas produzidas
diariamente, com muita sofisticação, pelas indústrias do medo (televisão,
internet, etc.). Assim, vamos nos alimentando de estresse dia após dia, sem nos
darmos conta de que se não fizermos nada para melhorar essa via de alimentação,
ou a maneira de digeri-la, acabaremos por sucumbir às doenças e todo tipo de
desordens funcionais.
Mas, ainda podemos ir além na
visão da mente humana. Segundo os Vedas, o ser humano foi constituído com o
desejo constante de alcançar algo (independentemente do que seja) e de manter
aquilo que foi alcançado; unir o desejo à retenção/proteção do objeto do
desejo. E essa é a fonte de preocupação de todas as pessoas. É da natureza
humana estar sempre buscando alcançar algo, seja o objetivo de voltar a fazer
exercícios, consertar um vazamento na casa, comprar um carro novo, qualquer
coisa; e, depois, estar sempre tentando manter aquilo que alcançou. Isso é
fonte de sofrimento constante! Com o estudo do yoga, tomamos consciência da
nossa natureza humana, deixamos de reagir à ela e seguimos no caminho que a
filosofia nos aponta em busca de uma saída para este dilema: samatvam.
Samatvam é a capacidade de gerenciar os
medos e ansiedades provocados pelos desejos. Existe saída para aquele que pode
enxergar a porta. Assim, a vida seguirá com seus desafios e obstáculos, nada
mudará neste sentido, mas, conhecendo sua própria mente de uma forma mais ampla, além dos limites da psicologia, o indivíduo vivenciará
cada situação e aspecto da vida de maneira bem diferente.
E pra ilustrar o que foi dito....
Pause {video} -- A. G. MohanThe mind is like a river. The thoughts are like the various droplets of water. We are submerged in that water. Stay on the bank and watch your mind.
Posted by A. G. Mohan on Sexta, 18 de maio de 2012
Glaucia, obrigada por compartilhar esse conhecimento tão valioso! Bjin, Priscylla.
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